Sem freios você precisará ir mais devagar…

Nichols Jasper
3 min readDec 20, 2020
Frenagem Corporativa?

Quando estamos aprendendo a dirigir estamos mais propensos a cometer as famosas barbeiragens, por inexperiência ou falta de habilidade para dominar o veículo, que muitas vezes parece ser uma fera com vontade própria.

Minha principal barbeiragem foi percorrer um trecho da Marginal Tietê, uma das principais vias de São Paulo, com o freio de mão puxado. Sim, fez muita fumaça, o carro estava com uma resistência imensa para seguir em frente, mas fato é que sinais óbvios de que algo estava errado não foram notados, até que um gentil condutor buzinou para chamar a atenção do inexperiente motorista. Não muito longe dali, no primeiro farol fechado houve uma colisão com o veículo da frente. Uma vez que os freios traseiros haviam se desintegrado (as sapatas do tambor já eram) com a presepada, só restou a frenagem dianteira para segurar o carro. Não foi o suficiente, mas ajudou a mitigar o impacto da batida, juntamente com o engate traseiro daquela Renault Kangoo.

Agora, o que tudo isso tem a ver com segurança? A função de frenagem, ou controle de aceleração, tem muito a ver!

Em várias empresas a área de segurança é vista como uma bloqueadora de ideias, projetos, inovações, um silo que não anda no compasso e na direção da organização. Há muita burocracia, uma alta paranoia e argumentos extremistas que são vistos pelas áreas de negócio como injustificáveis, áreas que a cada dia precisam cumprir com demandas pra ontem, numa velocidade e escala como nunca antes visto.

Por outro lado, especialistas de segurança veem quase que diariamente intrusões altamente sofisticadas, um fundamento para tanta preocupação. Embora cautela e canja de galinha não fazerem mal a ninguém, é preciso levar em conta que a percepção de risco dos seus interlocutores — as demais áreas de negócio — deve ser ponderada em nossas análises. Se não soubermos lidar com ela provavelmente nossas iniciativas serão preteridas por áreas com um argumento mais “progressista”, ou “alinhado ao negócio” como alguns poderiam dizer.

Voltando a analogia dos freios, digamos que uma área de segurança com postura insular é similar ao freio de mão puxado constantemente. Embora a empresa consiga avançar, há uma força contrária a esse movimento, logo, relembrando as aulas de física do colegial, a força resultante para frente será menor. Por outro lado, se imaginarmos um carro sem freios, sem restrições para sua aceleração, o cenário será de risco elevadíssimo para a empresa. Inúmeros acidentes ocorrem por falha nos freios, onde o veículo perde a capacidade de reduzir o risco mediante a frenagem perante um perigo iminente, sabemos que várias fatalidades são a consequência deste cenário.

Na realidade, a habilidade de desacelerar rápido é o que nos permite viajar rapidamente. Considere os freios de aeronaves ou de carros de Fórmula 1, que precisam passar de 300 km/h a 0 em apenas 4 segundos. Se não tivéssemos freios eficientes as viagens seriam mais lentas, porque o risco de andar rápido demais, sem controles que permitissem reduzir o risco associado à alta velocidade, seria intolerável para nós.

No mundo corporativo, não é diferente. A área de segurança deve ter papel semelhante aos freios de um carro ao informar os riscos e trabalhar junto com as demais equipes para mitigá-los a um nível aceitável, de maneira a criar um ambiente seguro que suporte o negócio e permita que ele avance, desacelerando o ritmo se necessário ao apoiar na ponderação de riscos e benefícios.

Dessa forma, a área terá maior relevância corporativa e será visto como uma parceira, viabilizadora de oportunidades, para que organização possa ir rumo aos seus objetivos, sem bater ou até capotar durante essa jornada.

Baseando nessa discussão do Reddit

Créditos das Imagens:

¹ https://cdn.aarp.net/content/dam/aarp/auto/2018/10/1140-automatic-braking.imgcache.rev5bac5c60852492b945c4477985301203.jpg

² https://thelincolnite.co.uk/2018/06/driver-arrested-after-overturned-car-crash/

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Nichols Jasper

Cybersecurity Specialist at Santander, Professor and Researcher at FATEC-SP | CISSP, SANS GDAT/GCDA, MBA